“Páginas Encenadas”
CITEC - Centro de Iniciação Teatral Esther de Carvalho
No âmbito das comemorações do seu 40º Aniversário, o CITEC desenvolve o seu mais recente projecto teatral, com peças de HAROLD PINTER. Sábado, 20 de Novembro, pelas 21:45h, nas “Páginas encenadas” nas folhas deste Outono. O CITEC abre o pano ainda em processo de criação.
”O AMANTE”, Encenação de Deolindo Pessoa e com interpretação de Carlos Cunha e Joana Macias e, “VICTORIA STATION”, Encenação de Pedro Carraca e com interpretação de José Cação e Nuno Castilho, são apresentados ao público através de um Ensaio Aberto, desvendando o seu processo de criação e construção, proporcionando uma conversa com o público sobre os espectáculos a estrear no final do ano no Teatro Esther de Carvalho em Montemor-o-Velho.
PÁGINAS ENCENADAS – festival de OUTONO | Sábado, 20 Novembro 21:45h | Centro Cultural de Verride
CITEC | PROJECTO PINTER
"Páginas encenadas" é a designação do espaço no "festival de Outono" em que se apresenta o Projecto Pinter. Este projecto enquadra-se nas comemorações dos 40 anos do CITEC e na evocação dos 80 anos do autor, que foi prémio Nobel em 2005.
www.40anoscitec.blogspot.com
O texto O AMANTE foi escrito originalmente para televisão em 1963, mas no mesmo ano estreou no Arts Theatre. A sua estreia em Portugal ocorreu em 1992 (Diogo Infante) e teve nova produção em 2002 (Artistas Unidos).
O teatro de Harold Pinter revela um universo singular, cómico e aterrador, feito de subentendidos, mal-entendidos ou puros equívocos, estamos no reino do falso para se atingir uma verdade que é ainda mais falsa.
O texto O Amante de Harold Pinter apresenta provocações ao casamento como instituição, envolvidas numa trama familiar, onde a ambiguidade dos diálogos e acções gera um enredo provocador e reflexivo. Em Sarah e Richard o que dizem e o que fazem são os factores desencadeantes de conflitos dramáticos.
Este texto é uma incursão no labirinto das relações eróticas, mas também da solidão e do medo que se esconde atrás de uma máscara irónica ou agressiva, onde as suas personagens são incapazes de se compreender e de se encontrar. É um conflito que decorre num registo com elegância e um humor seco, no nível de uma comédia subtil e íntima.
A temática que o autor traz à cena envolve: jogos de poder e dominação, mentira, ironia, perversão, traição, amor. São as paixões humanas, que conduzem o público a uma reflexão inevitável sobre suas próprias condutas.
O que se vai apresentado é um ensaio comentado de algumas cenas da peça, seguido da análise e discussão do mesmo com os eventuais interessados.
D. L. Pessoa
Em VICTORIA STATION, um motorista de táxi parado junto a um "jardim sombrio" no Crystal Palace e o homem da central que, progressivamente enlouquecido, se debate através das ondas hertzianas com a incompreensão aturdida do outro e com a sua própria solidão atroz esboçam os contornos de uma dependência mútua tão desesperada e carregada de mal-entendidos que a promessa do homem da central para "ir aí ter" soa como uma ameaça de morte e o suplicante "Não me deixe" do taxista balbuciado para o rádio soa como o grito de uma criança indefesa. Um no seu escritório obscurecido, o outro no seu táxi obscurecido, falam dos ossos do ofício de forma cada vez menos convincente e ambos acabam por ceder à fantasia escapista.
Irá o homem da central "lá ter" ou trará o motorista de volta para uma boa chávena de chá? Tem este um Passageiro A Bordo, uma rapariga adormecida por quem, como diz, se apaixonou, e ficará no Crystal Palace para sempre? Terá talvez assassinado a rapariga? Tê-la-á agredido? Passar-lhe-ão estas coisas pela cabeça sequer?
Alan Jenkins, Times Litterary Supplement, 29 de Outubro de 1982